terça-feira, 15 de maio de 2012

Cientistas extraem biodiesel de microalgas da ria de Aveiro



Os cientistas dos departamentos de Engenharia Mecânica e de Biologia da Universidade de Aveiro (UA) querem produzir biodiesel a partir de microalgas naturais (Chlorella vulgaris) da ria de Aveiro.

“O que fizemos foi olhar para a natureza das microalgas disponíveis na ria de Aveiro, confrontar com aquelas microalgas que tinham algum potencial em termos de produção de biodiesel e, nesse aspecto, a Chlorella vulgaris parecia ser uma escolha adequada”, explica Fernando Neto ao Ciência Hoje.

Segundo o investigador, até agora, o biocombustível extraído é apenas uma amostra das quantidades que os investigadores querem ver circular no mercado. Para aqui chegar, a extração tem de ser realizada através de processos, já em desenvolvimento na UA, que não encareçam o produto e que respeitem os requisitos técnicos da União Europeia.

“Temos ensaiado algumas técnicas de extracção, temos alguns procedimentos novos e comparámos a extracção a seco e a extracção húmida e estamos ainda a avaliar os resultados para perceber qual delas permite obter melhor qualidade do biodiesel”, afirma.

Com a identificação de uma espécie de microalga da ria da qual já foi obtido biodiesel, os investigadores da UA têm agora três objectivos específicos que esperam, até ao final do projecto, que termina este ano, dar como concluídos: assegurar que o biocombustível produzido tem a qualidade técnica requerida; identificar quais são os principais constrangimentos, nomeadamente de natureza económica, associados à produção desse biodiesel; fazer uma análise de ciclo de vida do processo para ver se comparativamente ao combustível convencional traz benefícios energético-ambientais mensuráveis que deem uma vantagem ao biodiesel de microalgas.

De acordo com Fernando Neto, as microalgas constituem um recurso abundante. Para além disso, a sua utilização pode ainda trazer outras vantagens para o ambiente.

“Como as microalgas têm grandes necessidades de CO2, ajudam a suprimir o excesso de dióxido de carbono na atmosfera, têm também uma vantagem associada à própria recuperação dos recursos hídricos e podem ser produzidas num ambiente que não entra em conflito com a produção de biodiesel a partir de outras espécies, nomeadamente oleaginosas, que podem ser produzidas em terra arável”, exemplifica.

No momento, os investigadores estão “a fazer o cultivo de microalgas num ambiente muito controlado" e para promover o processo de crescimento das microalgas alimentam-nas com "um determinado tipo de nutrientes", fornecem "dióxido de carbono e determinadas condições de luminosidade para que se consiga maximizar a produção de óleo a partir delas”.

No entanto, este ambiente controlado, a uma escala maior de produção de biodiesel, “não é o mais adequado”. Por isso, o projecto prevê a construção de uma lagoa protótipo para o cultivo deste tipo de microalgas utilizando águas de uma ETAR. Este protótipo ficará localizado na Galiza, Espanha, uma vez que há instituições espanholas e francesas parceiras neste projecto, intitulado «EnerBioAlgae: Aproveitamento energético de biomassa em recursos hídricos degradados ricos em microalgas», e que está inserido no Programa de Cooperação Territorial do Espaço Sudoeste Europeu SUDOE 2007-2013.

“Contamos que a partir da entrada em funcionamento da lagoa protótipo, no final do ano, consigamos ter uma noção mais clara das dificuldades e dos custos associados à produção de biodiesel a uma escala muito maior”, avança Fernando Neto.

Sem comentários:

Enviar um comentário